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Philippines 137, o antecessor do voo 3054

O voo Philippines 137 foi o antecessor do voo 3054
Em 1998, um acidente igual ao do voo 3054 aconteceu nas Filipinas. (Cipher01/Wikimedia Commons)

Nove anos antes do voo 3054, outro acidente parecido aconteceu nas Filipinas. Em 22 de março de 1998, um Airbus A320 da Philippines Airlines varou a pista do Aeroporto de Bacolod, nas Filipinas durante o pouso. Assim como em São Paulo, o voo das Filipinas estava com os reversores do motor esquerdo inoperantes. E, do mesmo modo, o avião saiu da pista.

O voo Philippines 137 decolou de Manila, capital do país, às 18h40 do dia 22 de março de 1998. A bordo, estavam seis tripulantes e 124 passageiros. O avião era um Airbus A320-214, de matrícula RP-C3222, que havia chegado na companhia apenas três meses antes. Apesar de ser um avião muito novo, estava com os reversores do motor 1, que é o esquerdo, travados. O que não seria um problema, visto que os reversores apenas auxiliam na parada do avião. Os aviões são certificados para pararem mesmo sem os reversores.

Por volta das 19h20, os pilotos do voo 137 entraram em contato com o controle de tráfego aéreo de Bacolod para solicitar o pouso. O controle orientou o avião para pousar na cabeceira 04 do aeroporto, praticamente no sentido norte-sul. A aeronave tocou na pista e, ao invés de parar, como programado, começou a puxar para a direita. Naquela velocidade, o leme e o trem de pouso não conseguiam controlar o avião, então os pilotos aceleraram o motor direito. Dessa forma, o avião voltou a se alinhar com a pista, mas não parou a tempo.

Depois de se chocar contra a cerca do aeroporto, o Airbus A320 saltou sobre um riacho e bateu contra casas de um bairro residencial da cidade. Apesar de todos os 130 ocupantes da aeronave terem sobrevivido, três pessoas em solo morreram.

Por que o avião não parou?

A gravação das caixas pretas registrou a seguinte fala do copiloto: “Sem spoilers. Sem reversor. Sem desaceleração”. Esse trecho evidenciou uma situação que acontecia nos Airbus A320 e que provocou tanto esse acidente quanto o do voo 3054. O A320 é um avião muito automatizado e os computadores interpretam diversos inputs para controlar motores, reversores e spoilers da maneira mais eficiente possível. O problema é que a programação do avião tinha a seguinte falha.

Durante a preparação para o pouso, os pilotos ativam o autobreak, que são os freios automáticos, bem como os ground spoilers aletas que se abrem na parte superior da asa quebrando a sustentação e colando o avião no chão. Enquanto o avião está voando, a manete de potência ainda está na posição climb, mas, quando o avião se aproxima do solo, ele emite o sinal “Retard, Retard”, para os pilotos puxarem as manetes para a posição Idle e, depois, Reverse. E aí que estavam duas falhas no projeto do A320.

Primeiramente, se os pilotos puxassem para Idle apenas uma das manetes, o aviso de “Retard” parava. Então, em situação de estresse, os pilotos corriam o risco de não perceber que uma das manetes ainda estava acelerando o avião. Além disso, apesar de todos os sinais indicarem que o avião estava em pouso, tais como o sensor de peso dos trens de pouso, os spoilers e autobreaks armados, se uma manete continuasse acelerando o avião, ele não iria ativar nem os autobreaks, nem os spoilers. Foi isso que aconteceu nas Filipinas em 1998 e em São Paulo em 2007.

No vídeo abaixo, é possível ouvir o aviso de “Retard, Retard” do Airbus A319 (que não deixa de ser um A320 mais curto)

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Acelerando de um lado

Durante o pouso, com as manetes em Climb, o avião está com o Autothrust ativo. Assim, ele voa na velocidade que os pilotos programaram no piloto automático. Quando o A320 tocou na pista, os pilotos puxaram apenas a manete do motor direito para Full Reverse, freando esse lado do avião. Nesse momento, duas coisas aconteceram. Primeiramente, apenas o motor do lado esquerdo continuou acelerando o avião. Além disso, o Autothrust se desligou, acelerando o motor esquerdo para a condição de subida.

Os pilotos, então, voltaram a acelerar o motor direito, puxando o avião de volta para a pista, mas isso não foi suficiente para frear a aeronave posteriormente. E assim ele se acidentou contra as casas no bairro colado ao aeroporto.

Dois acidentes iguais

Depois desse a Airbus fez uma modificação nos projetos e, enquanto as duas manetes não estivessem na posição Idle, durante o pouso, o alarme “Retard, Retard” do A320 continuaria tocando. O problema é que essa mudança era apenas opcional. Dessa forma, o PR-MBK, avião que se chocou contra os prédios no voo 3054, não tinha esse dispositivo. Portanto, tal qual o A320 do voo 137, o do 3054 parou de dar o aviso de Retard assim que os pilotos puxaram pra Idle apenas a manete do motor com o reversor ativo.

Os dois acidentes aconteceram de forma semelhante, com o mesmo modelo, causados pelo mesmo problema. Nos dois casos, o motor com o reversor inativo continuou em potência de pouso, enquanto o outro motor tentou frear o avião sozinho. As lições foram aprendidas e, tanto a Airbus, quanto as companhias aéreas precisaram repensar no treinamento dos pilotos bem como no projeto da aeronave para que novos acidentes assim não acontecessem.

Depois desses acidentes, o aviso de “Retard” passou a ser obrigatório em todos os A320 enquanto as duas manetes não estivessem na posição Idle. Essa e outras modificações no projeto fizeram do avião ainda mais seguro e um acidente assim não voltou a se repetir desde aquela noite chuvosa de julho de 2007, em São Paulo.

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