
Em 14 de julho de 1919, a França comemorava a vitória na Primeira Guerra Mundial. A data ainda coincidia com o aniversário da Tomada da Bastilha, evento central na Revolução Francesa e um dos principais feriados franceses. Enfim, apesar de os aviadores terem tido papel central na guerra, o governo francês proibiu que aviões participassem das comemorações. Então, semanas depois, Charles Godefroy protestou de uma forma inusitada: voando por baixo do Arco do Triunfo!
Charles Godefroy nasceu em La Fètche, em 29 de dezembro de 1888. Ele entrou para o exército francês em 1914 e, depois de passar um tempo no hospital por ferimentos, Charles decidiu que iria para a Força Aérea. Ele iniciou os treinamentos em setembro de 1917 e um ano depois, em novembro de 1918, se tornou aviador. No entanto, Charles se formou piloto exatamente no mês que acabava a Primeira Guerra Mundial. Por ser um excelente piloto, ele se tornou instrutor, formando novos pilotos.
Cortando as asinhas dos Heróis do Ar
Como falei, a Primeira Guerra Mundial terminou em novembro de 1918. E, se aproveitando do feriado da Tomada da Bastilha, a França decidiu fazer uma parada militar em Champs Eliseé no dia 14 de julho de 1919, exatos 103 anos atrás. A questão é que o Comando Militar francês mandou os aviadores marcharem como outros soldados. Isso aconteceu porque os aviadores haviam se declarado “Heróis do Ar”, causando insatisfação nas outras forças armadas.
Como é de se esperar, os pilotos ficaram bem irritados com a ordem. Por isso, dias antes da parada, os aviadores se reuniram e decidiram que um deles iria voar por baixo do Arco do Triunfo. Quem seria o escolhido? Obviamente, o grande ás da aviação francesa da época, Jean Navarre. Porém, no dia 10 de julho de 1914, Navarre sofreu um acidente aéreo e morreu. Assim, Charles Godefroy se voluntariou para o voo.
Então, Charles chamou seu amigo, o jornalista Jacques Mortane e foi inspecionar o Arco do Triunfo de perto. Além de checar o tamanho do vão do arco, Charles analisava os ventos do local e planejava a rota que faria para voar ali. Além disso, o aviador treinou a manobra diversas vezes, passando por baixo de uma ponte sobre o Rio Ródano, nos arredores da comuna de Miramas.
O voo

Ao contrário do que algumas fontes dizem, o voo não aconteceu no dia da parada. Ela ocorreu normalmente exatos 103 anos atrás, com os pilotos marchando insatisfeitos. Então, três semanas depois da marcha, em 7 de agosto de 1919, Charles se disfarçou de subtenente e invadiu a Base Aérea de Villacoublay, a uns 13 km de Paris. Ele roubou um Nieuport 27 e decolou, por volta das 7h20 da manhã do horário local. Charles se aproximou do Arco do Triunfo e deu duas voltas ao redor do monumento, antes de fazer a grande manobra.
Então, ele mergulhou o Nieuport 27 sobre a Avenida de la Grand Armée, ganhou velocidade e, ao se aproximar do monumento, baixou a altitude do avião. O vão do Arco do Triunfo tem 14 metros de largura. E a envergadura do avião é de 8 metros. Foi uma passagem apertada pelo vão do arco! Na hora, os passageiros de um bonde que passava ali se jogaram no chão. Enquanto isso, pedestres correram para fora do arco, assustados. O jornalista Jacques Mortane filmou e fotografou tudo. Para evitar problemas, não assumiu a autoria das imagens, mas foi descoberto logo depois.
A promessa para a família
Today for Bastille Day, many planes will fly over the Arc de Triomphe. Do you know that in 1919, for the victory parade of WW1 the pilots were not allowed to parade in plane, Charles Godefroy to show his discontent passed illegally during the parade under it with a bébé Nieuport pic.twitter.com/FglTL1NB7O
— Marlène Aviation (@AviationMarlene) July 14, 2022
As autoridades desaprovaram o voo. O receio era que o voo de Godefroy inspirasse outros aviadores a fazerem o mesmo. Apesar disso, o piloto apenas recebeu uma advertência, enquanto o jornalista foi liberado de qualquer penalidade. Ainda assim, Charles teve de prometer a sua família que nunca mais voaria e assim terminou sua carreira de aviador, virando vendedor de vinhos.
Charles morreu em 1958, logo após completar 70 anos de idade. Acabou sendo homenageado com uma rua e um monumento em Soisy-sous-Montmorency, onde viveu seus últimos anos. E, de 1919 para cá, outros dois aviadores passaram por baixo do Arco do Triunfo, em 1981 e 1991.
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