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303 sobreviventes no Asiana 214 são um tributo à engenharia

O texto “O baixo número de vítimas no acidente com o Boeing 777 da Asiana é um tributo à engenharia” foi escrito por Lito Sousa e publicado originalmente em 7 de julho de 2013. Texto editado por Lucas Conrado.

Asiana 214
Um Boeing 777 com 306 pessoas a bordo se acidenta. Apenas duas morrem por conta do acidente (uma terceira foi atropelada). Isso só foi possível graças à engenharia (foto: NTSB)

No dia 6 de julho de 2013, o voo Asiana 214 se acidentou durante o pouso em São Francisco (EUA). A bordo, estavam 306 pessoas, sendo 16 tripulantes e 291 passageiros. Depois de a aeronave se chocar contra o solo, ainda pegou fogo. E ainda assim, houve apenas três vítimas fatais. Detalhe, das três vítimas, duas estavam sem os cintos de segurança durante o pouso. Portanto, no carro ou no avião, estejam SEMPRE com cinto de segurança!

Investigações apontaram treinamento deficiente como a principal causa do acidente. Durante a aproximação, os pilotos cometeram entre 20 e 30 erros pequenos que resultaram na batida contra o solo. O avião se aproximou da pista baixo demais e se chocou contra o solo e se quebrou. Em seguida, ainda pegou fogo. Ainda assim, 303 pessoas sobreviveram ao acidente.

O Boeing 777 voa desde 1995. O acidente do Asiana 214, que aconteceu em 2013, foi o primeiro com vítimas fatais a bordo de um Triplo 7. Na verdade, desconsiderando o incidentes da Malaysia Airlines no qual um avião foi abatido por míssil e outro desapareceu (cujas evidências caracterizam uma ação intencional), essas foram as únicas vítimas a bordo de um Triplo 7 nos 28 anos em que o avião voa. Então, o que faz do 777 um avião tão seguro?

Uma palavra responde à pergunta: engenharia.

Antes de falarmos da engenharia, um recadinho! Você tem medo de voar?

Então presta atenção nisso aqui! Nos dias 31 de maio, 1º e 2 e junho, nós vamos fazer o Intensivão Sem Medo de Voar! Em cada aulão, vamos abordar um tema que assusta muita gente quando vai voar de avião. Por exemplo, no dia 31, o aulão vai ser sobre pousos e decolagens. Em seguida, no dia 1º de junho, a gente vai falar sobre os ruídos dos aviões. Então, no dia 2 de junho, a gente vai abordar a tão temida turbulência!

Clique aqui e se inscreva no intensivão! Te garanto que você vai terminar o intensivão sem medo de se repetir o que aconteceu no Asiana 214.

Um tributo à engenharia

Anteriormente, o único acidente em voo com o modelo ocorreu durante o pouso em Londres. A investigação descobriu que a formação de cristais de gelo no combustível poderiam causar o problema com o aquecedor de combustível naquele motor específico (Rolls-Royce Trent 895). Logo após a conclusão da investigação, todos os trocadores de calor dos motores RR foram substituídos por um novo modelo que não apresenta o problema. Aliás o avião acidentado no Asiana 214 possui motores Pratt & Withney, imunes ao problema de cristais de gelo no trocador de calor do óleo/combustível.

O post é para prestar um tributo à engenharia aeronáutica. Aliás, o baixíssimo número de vítimas em um acidente desta magnitude mostra o quanto os engenheiros aprenderam com o passado e constroem aviões cada vez mais seguros, tanto do ponto de vista estrutural quanto do ponto de vista dos sistemas. A cabine de passageiros hoje em dia possui materiais que retardam a propagação de fogo, de tal maneira que quando este avião começou a pegar fogo, já estava praticamente evacuado.

O que mais me impressionou foi que o charuto ficou quase intacto. Os buracos vistos no teto ocorreram após o incêndio, provavelmente causado pela proximidade do motor 2 que foi parar ao lado da fuselagem. Este desenho abaixo mostra, com extrema simplicidade, a construção da estrutura de uma aeronave deste tamanho. Nem mesmo as asas e as juntas das seções se separaram na pancada (exceto a seção 48, que foi arrancada no impacto inicial).

Asiana 214
Fuselagem do Boeing 777

A resistência do avião

A fuselagem é do tipo semi-monocoque, com stringers (costelas horizontais) e frames (os anéis circulares) proporcionando a rigidez estrutural. Além disso, possui uma gigantesca keel beam (viga do casco) que suporta e transfere todos os esforços causados pela aterrisagem. Por falar nisso, seu gigantesco trem de pouso de 3 eixos, é o ponto de distribuição de forças das asas. As vigas do solo, onde se prendem os assentos são de material compósito (fibra de carbono e outras misturas).

O peso médio de um 777-200 no pouso é da ordem de 200 toneladas (200 mil quilos), a uma velocidade aproximada de 295 km/h. A imagem abaixo mostra a devastação que ocorreu no acidente, desde antes da cabeceira da pista até o ponto de parada do Asiana 214, a apenas 700 metros à frente.

Percebam que a única peça que poderia manter o nariz levantado (os estabilizadores horizontais) foram arrancados no primeiro impacto, ainda antes de chegar na cabeceira, então o nariz e o restante da fuselagem deve ter atingido o solo com uma força descomunal. O trem de pouso e seus eixos são de aço, e é possível ver em uma das fotos que apenas um eixo das rodas sobreviveu. Também é possível ver que a viga foi “rasgada” do avião e permaneceu acoplada ao trem.

200 toneladas a 295 km/h. 306 pessoas. 3 mortos.

Asiana 214
Fotos mostram detalhes de como ficou o 777 que fazia o voo Asiana 214 (Montagem: New York Times)

Segurança e informação

Para que todos possam entender porque eu digo que devemos prestar um tributo aos engenheiros, dada dimensão do que foi este acidente, vamos comparar com um outro que ocorreu semana passada com um ônibus no Rio Grande do Sul.

Um ônibus pesa por volta de 20 toneladas, e tem uma velocidade média de 100 km/h. Transporta algo em torno de 45 passageiros.

Asiana 214

(Reprodução/G1)

Boeing 777-200 do voo Asiana 214: 200 toneladas, 295 km/h, 307 pessoas, 2 mortos.
Ônibus no Rio Grande do Sul: 20 toneladas, 100 km/h, 45 pessoas, 6 mortos.

(imagem: NTSB/Wikimedia Commons)

Por isso que critico quando distorcem a informações, especialmente quando se traduz artigos e reportagens em inglês. Por exemplo, a NASA jogou um avião no chão cheio de câmeras lá dentro para pesquisar a melhoria de sobrevivência em caso de acidentes. O Discovery Channel fez um documentário bem legal, explicando o teste e os resultados. No entanto, quando o documentário foi reeditado e transmitido por aqui, os canais só falaram que as chances de sobrevivência no fundo do avião são maiores.

Então, olha essa imagem aqui ao lado, feita pelo Escritório Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB), dos Estados Unidos. As três vítimas do acidente do Asiana 214 foram justamente passageiros nas duas últimas fileiras. Portanto, os últimos assentos são mais seguros mesmo?

Enfim, aviação é muito mais que sensacionalismo. É uma busca constante por eficiência bem como segurança. Repetindo a frase clássica do jornalismo: “Notícia não é um cachorro morder um homem, mas um homem morder um cachorro”. Ironicamente, um acidente aéreo chama tanta atenção da imprensa justamente porque é algo muito raro de acontecer. E como chama atenção, vai pro imaginário popular e as pessoas pensam que quando voarem, o avião vai cair.

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