Lá em 2008, com a crise econômica que virou os Estados Unidos (e boa parte do mundo) de cabeça para baixo, um triste episódio aconteceu. A Microsoft se viu obrigada a colocar na rua os desenvolvedores do tradicional e tão amado Microsoft Flight Simulator. A franquia terminaria ali, no Flight Simulator X (ou FSX).
A notícia foi recebida com tamanha tristeza pela gigante e viva comunidade. O hobby de milhões de pessoas e a própria indústria que o cerca foi obrigado a trabalhar com o que tinha. Por conta da descontinuidade da franquia, até hoje boa parte da aviação virtual é baseada em um software lançado em 2006, há mais de 10 anos.
Para se ter uma ideia da distancia cronológica de que estamos falando, basta dizer que a primeira geração do iPhone da Apple foi lançada em 2007. Basta dizer que o FSX é um software feito para rodar em Windows XP (já estamos no Windows 10!). Na época do lançamento do mais recente Flight Simulator da Microsoft, não existia WhatsApp. Nem se usava Facebook direito no Brasil. É muito difícil crescer dentro de uma plataforma lançada há mais de dez anos, principalmente com a rapidez da evolução tecnológica das últimas décadas. É como tentar dirigir bons carros em uma estrada para cavalos. Aos poucos, isso afetava a comunidade simuleira.
Mais tarde, a Microsoft até tentou voltar ao ramo com o Microsoft Flight (2012), que se provou um fracasso comercial: era um jogo, não um simulador de verdade. Outros concorrentes, como o X-Plane da Laminar Research, tentam até hoje preencher o “gap” deixado pelo verdadeiro Microsoft Flight Simulator, mas nunca com o mesmo impacto.
E a desesperança continuou até que no dia 9 de Julho de 2014, uma surpresa: a britânica Dovetail Games anuncia a compra dos direitos autorais da franquia da Microsoft, com planos para lançar um novo simulador nos próximos dois anos. Bem, amigos, essa hora chegou: tiraram do baú e reinventaram a tecnologia por trás do simulador da Microsoft e em 2016, após 10 anos, a comunidade simuleira deve receber dois novos títulos, sendo eles: DTG Flight School e DTG Flight Simulator!
O primeiro título, o Flight School, acaba de ser lançado em maio, é uma amostra da tecnologia, focada nos iniciantes do hobby: é construído de forma em que o jogador cresça dentro do jogo, aprendendo a pilotar o Piper Cub e o Piper Cherokee, as duas aeronaves inclusas, além de poder voar em qualquer lugar do mundo, já que o modo voo livre cobre todo o planeta terra. É o que o nome fala: uma “escola de voo”. O segundo título, a ser lançado até o final do ano, é sim o que nós viemos esperando há anos: um completo, robusto e atualizado simulador de voo.
Sobre o DTG Flight School
Como mencionei há pouco, é um produto para quem nunca pilotou na vida. Tudo bem que é sempre muito divertido voar visual com o Cub para lá e para cá, mas usuários experientes na simulação de voo talvez não tirem muito proveito dessa versão em particular. O Flight School, de acordo com uma entrevista que fiz com a Dovetail, “é montado para ser uma experiência stand-alone e por isso não está aberto à adicionais produzidas por terceiros”, ou seja, nada de Add-Ons. Também não há suporte para multiplayer.
Um ponto positivo do Flight School é que ele tem suporte a cenário mundial, o que me impressionou bastante. O detalhe e a densidade dos cenários que já vêm com o jogo, sem ter que fazer nenhum upgrade, é bem superior ao do FSX. Ele foi desenvolvido em parceria com a famosa OrbX, talvez a melhor desenvolvedora de cenários para simuladores de voo. Vale observar também que as aulas de voo são realizadas tanto no Arizona quanto na Inglaterra, em paisagens lindíssimas.
Dovetail Games Flight School está disponível na Steam por R$27,99.
Sobre o DTG Flight Simulator
Com previsão do lançamento para o fim desse ano, o simulador promete ser a volta dos simuladores de grande porte. Deve vir com uma boa quantidade de aeronaves e terá sim suporte à Add-Ons de terceiros!
Um dos maiores problemas encontrados hoje no uso do Flight Simulator X é que o software, lá em 2006, foi construído em 32-bit, e por isso só pode utilizar uma determinada quantidade de memória. Ou seja: se você tiver uma máquina boa, o Flight Simulator não tira tanto proveito dela, o que dificulta a evolução do jogo e dos softwares adicionais. Por isso, a mais importante característica do novo DTG Flight Simulator é que ele é uma aplicação de 64-bit, usando DirectX 11. Ele pode muito bem aproveitar a performance das CPUs de hoje em dia.
Ainda há muito de se esperar do novo DTG Flight Simulator, ele deve ser uma versão atualizada do Flight Simulator X que tanto amamos, mas com suporte à performance de hoje em dia. Além disso, uma grande quantidade de novas tecnologias para uma simulação mais realista devem ser introduzidos.
O DTG Flight Simulator será lançado no final de 2016.
Conclusão
Voei no Flight School e gostei bastante, lembra muito o FSX, mas com gráficos realmente bem melhores. Além disso, a interface do usuário é muito bem feita, as telas e menus de navegação, escolha de aeronave e planejamento de voo são intuitivas e bem montadas. Claramente é um produto feito por quem gosta de simulação de voo, o que me deixa bem aliviado e esperançoso do que pode vir quando a versão completa do simulador for lançada no final desse ano.
Tenho que confessar: já inicialmente fiquei muito feliz com a prospecção de novos e modernos títulos de simuladores de voo, precisamos disso. Após ter contato com o que a DTG vem preparando, fiquei aliviado. Estamos em boas mãos. Se a aviação virtual vai ganhar uma nova vida com a retomada da franquia, só o tempo dirá. Mas o que temos, por agora, é justamente o que precisávamos: uma nova esperança.
By Bebeto Nogueira