Ao contrário do que muita gente pensa, um motor a jato não usa todo ar que aspira para queimar o combustível e mover o avião. Na verdade, motores mais modernos como o CFM LEAP e o General Electric GE9X queimam apenas 1/10 do ar que aspiram. Todo o restante é empurrado pela fan do motor, mais ou menos como as hélices fazem em um avião a pistão ou turboélice. Dois anos antes do primeiro avião a jato decolar, surgiu na Itália um avião bem estranho, mas que acabou inspirando o desenvolvimento dos motores a jato. Esse avião é o Caproni Stipa, também conhecido como Stipa-Caproni.
O projetista Lugi Stipa pensou em um design inovador para um novo avião. Ao redor do motor a pistão e da hélice, ele constuiu uma carenagem redonda, dando ao avião um formato de barril deitado. Dessa forma, o motor usaria o princípio de Bernoulli a seu favor. A ideia era a seguinte: a hélice empurraria o ar para um tubo mais estreito. De acordo com o princípio, quando um fluido entra em um tubo mais estreito, sua velocidade aumenta. Assim, o ar seria mais acelerado, aumentaria a eficiência do avião. No fim das contas, é o mesmo princípio que os motores turbofan de hoje utilizam. No entanto, o ar era empurrado por um motor a pistão de 120 cavalos.
O Caproni Stipa
Para aumentar a eficiência do Caproni Stipa, o interior do tubo tinha o formato de um aerofólio. Além disso, o projetista ainda adaptou a hélice para ter a maior eficiência possível. Para diminuir o peso, a estrutura do avião era quase toda de madeira. Acima do “barril” havia uma cabine aberta onde um ou dois tripulantes voavam. Nas laterais, asas estreitas e longas deixavam o avião ainda mais estranho. Para completar, o leme e o estabilizador horizontal, relativamente pequenos, ficavam logo atrás do tubo. A ideia era eles usarem o ar que já saía dali para tornar o voo mais fácil.
Naquele momento, a Itália estava sob o regime fascista. E assim como outros ditadores, Mussolini queria mostrar ao mundo que seu país era desenvolvido. Assim, quando Stipa mostrou ao governo seu desenho inovador, ele conseguiu logo dinheiro e uma equipe para tirá-lo do papel. A Caproni, que fazia aviões desde 1908, pegou o projeto. E, assim, fizeram o único protótipo.
Legado
O primeiro voo do Caproni Stipa aconteceu em 7 de outubro de 1932. A princípio, os resultados foram bem positivos. Conforme os projetos mostravam, a carenagem aumentou a eficiência do motor. Além disso, o avião ainda tinha uma boa razão de subida. Outra vantagem do Stipa era sua baixa velocidade de pouso, só 68 km/h. Portanto, tanto para decolar quanto para pousar, o avião precisava de apenas 180 m de pista. Os pilotos ainda acharam o avião muito estável. Tão estável que era até difícil de virar.
No entanto, o avião sofria de um arrasto aerodinâmico muito grande. Por isso, tinha uma velocidade muito baixa, de apenas 133 km/h. O arrasto era tão grande que não compensava continuar construindo este avião. Era mais fácil apostar em modelos mais comuns. No fim das contas, apenas um Caproni Stipa foi construído. Por outro lado, o legado do avião continua até hoje. O “barril” que Stipa desenhou inspirou a construção dos motores a jato. Se hoje um Boeing 777X voa com o motor mais moderno do mundo, devemos agradecer a Luigi Stipa e seu avião esquisito.
Dados Técnicos
Tripulção: 1 ou 2
Comprimento: 5,88 m
Envergadura: 14,28 m
Área de asa: 19 m²
Peso vazio: 570 kg
Peso operacional: 850 kg
Motor: 1 de Havilland Gipsy III de 4 cilindros e 120hp
Velocidade máxima: 133 km/h
Teto operacional: 3.700 metros
