
No pós-Segunda Guerra Mundial, a indústria aeronáutica americana levava a sério o ditado “em time que ganha, não se mexe”. Com Douglas e Lockheed dominando a aviação civil mundial e a Boeing no topo da aviação militar, os norte-americanos insistiam nos motores a pistão. Ainda se reconstruindo do conflito, a Europa preferia investir em novos motores turboélice e até a jato. E assim, em 27 de julho de 1949, o de Havilland Comet, primeiro jato comercial da história, fazia seu voo de estreia.
O Comet era uma revolução para a aviação comercial. Ele era o primeiro avião comercial a jato e pressurizado na história. Os quatro motores ficavam na altura das asas, para diminuir o arrasto. Além disso, as asas eram enflechadas para trás, para resistirem às altas velocidades que o Comet alcançaria. Outra novidade do Comet era sua altitude de cruzeiro: nada menos do que 42 mil pés, ou 12,8 mil metros, o mesmo nível no qual os aviões modernos voam. Dessa forma, o Comet podia ser mais econômico, afinal sofria menor resistência do ar. Além disso, voava por cima das tempestades e da maioria das intempéries, aumentando o conforto a bordo.
Por falar em conforto, por dentro, o primeiro jato comercial da história trazia o que havia de mais luxuoso da época. A bordo da cabine pressurizada e mais silenciosa do que a dos aviões a pistão e turboélice, os passageiros voavam com maior conforto. Ali, eles podiam desfrutar de janelas grandes, que mostravam o céu lá fora. O avião ainda oferecia mesas e toaletes masculinos e femininos para os passageiros. Enquanto isso, os comissários podiam trabalhar em novas galleys completas, que permitiam a preparação de comidas quentes e frias ao mesmo tempo.
Ascensão e queda
A britânica BOAC foi a cliente lançadora do de Havilland Comet, comprando 10 unidades em 1951. Assim, o primeiro voo comercial aconteceu em 1952, entre Londres e Joanesburgo, na África do Sul. Em pouco tempo, a BOAC também colocou o Comet nas rotas ligando Londres a Singapura e Tóquio. No primeiro ano, o Comet transportou 30 mil passageiros, incluindo a Rainha Elizabeth II. Sim, a atual rainha da Inglaterra voou no Comet em seu primeiro ano de voo.
Do outro lado do Atlântico, a TWA bem como a Pan Am desejavam ter o Comet em suas frotas. Porém, em 10 de janeiro de 1954, um Comet operado pela BOAC explodiu no ar, caindo no mar Mediterrâneo. Todos os 35 ocupantes morreram. Meses depois, em 8 de abril, outro Comet também explodiu no ar. Dessa vez, era um Comet da South African Airways e também sofreu o acidente sobre o Mediterrâneo, matando 21 ocupantes. Dessa forma, sem ninguém entender o que havia acontecido, todos os Comet foram groundeados.

Janelas quadradas

A investigação com os acidentes dos Comet da BOAC bem como da South African Airways revolucionou a aviação mundial. Foi neste momento que especialistas começaram a desenvolver as técnicas de investigação que são usadas até hoje e que tornaram a aviação tão segura. Depois de inúmeros testes, comprimindo e descomprimindo as cabines, os investigadores descobriram o que aconteceu.
Como comentei, o avião tinha grandes janelas, que os passageiros adoravam. O problema é que as janelas tinham quinas quadradas, como a maioria dos aviões da época. Como a maioria dos aviões voava em baixas altitudes, isso não era um problema. No entanto, o Comet voava a quase 13 mil metros, passando por pressurização. Então, depois de muito pressurizar, as quinas das janelas começavam a sofrer desgastes e rachaduras. Esse desgaste se tornou fatal, causando a explosão dos aviões no ar.
Dessa forma, todos os Comet foram proibidos de voar até que a situação fosse resolvida. E qual foi a solução? Foi algo que vemos em todos os aviões comerciais e até executivos até hoje: janelas com cantos arredondados. Essas curvas suportam a pressão melhor que as quinas de 90º do Comet e fazem dos novos aviões infinitamente mais seguros.
Solução tardia
A de Havilland ainda lançou novas versões do Comet no fim da década de 1950. Porém, eles vieram tarde demais. Quanto os novos Comet decolaram, os Boeing 707, Tupolev TU-104, Sud Aviation Caravelle e o Douglas DC-8 ou já voavam, ou estavam prestes a voar. Mais modernos, eficentes e sem a imagem arranhada que o Comet criou. No fim das contas, companhias, bem como forças aéreas utilizaram o Comet por anos, no mundo inteiro. No entanto, acabou sendo superado pelos principais concorrentes e teve bem menos êxito do que era previsto.
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