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12 informações erradas sobre viagens de avião

viagens de avião
O que mais tem na aviação são mitos. E, infelizmente, a imprensa colabora para esses mitos. (foto: Lucas Conrado)

Publicado originalmente em 23 de abril de 2014 e editado por Lucas Conrado

Já reparou que agora é tudo viral com número? 10 coisas que você nunca viu, 30 coisas para fazer seu dia melhor, 15 coisas para brilhar na páscoa… que saco!

Juro que não quero me transformar em um Mythbusters de aviação, mas “véi, na boa” tem algumas coisas que não dá para deixar passar. Uma dessas coisas foi um tópico despretensioso no Reddit pedindo respostas de tripulantes sobre a “verdade” que não se fala na aviação. Até aí tudo bem, mesmo porque não se pode afirmar se as respostas realmente estão vindo de quem realmente trabalha na aviação e o Reddit está lá para diversão, tipo Yahoo Respostas. O problema é quando um tópico despretensioso vira pauta da revista Galileu! Não vou comentar todas as “20 coisas”, mesmo porque não são só 20 coisas que não se sabe sobre viagens de avião, então seguem as mais “interessantes”.

Antes da lista dos 12 mitos, você está sabendo do intensivão do Curso Medo de Voar?

Nos dias 31 de maio, 1º de junho e 2 de junho, vamos fazer um intensivão do nosso Curso Medo de Voar. Clique aqui e se inscreva gratuitamente nessas aulas! Inclusive, vamos também abrir uma nova turma para o Curso Medo de Voar! Caso se interesse, ou conheça alguém que tenha esse medo, saiba mais no link acima!

1. O que você realmente precisa saber sobre máscaras de oxigênio

“Se as máscaras de oxigênio caírem, você só tem cerca de 15 minutos de oxigênio a partir disso. Mas isso é mais do que suficiente pro piloto baixar a uma altitude onde seja possível respirar normalmente.”

Certo, é isso mesmo. Não tem nada de errado ai.

Mais importante: em grandes altitudes, você tem de 15 a 20 segundos antes de desmaiar. Então coloque sua máscara primeiro, e depois cuide das crianças. Desmaiar por alguns segundos não vai prejudicá-las.

Mais ou menos. Tudo vai depender de qual altitude a aeronave estará voando e a natureza da queda das máscaras. O “tempo de consciência útil” (TUC em inglês) para uma despressurização normal varia de acordo com a tabela abaixo. Eu grifei a altitude de 35.000 pés que é a média de cruzeiro para a maioria dos voos comerciais. Este link sobre TUC informa que em caso de descompressão rápida, o tempo pode ser reduzido em até 50%.

Considerando o pior cenário, teríamos 15 a 30 segundos. “Ah Lito, mas você tá sendo ranzinza por causa de 10 segundos”? Oras, acontece que 30 segundos após a descompressão rápida, a aeronave já vai estar a 30 mil pés, e 60 segundos depois a 25 mil (levando-se em conta que descidas em emergência por descompressão rápida podem ultrapassar a razão de 10 mil pés por minuto – detalhe, alguns instrumentos só indicam o máximo de 6000 pés de razão de descida/subida), então o tempo de consciência vai aumentando, ou você acha que o piloto vai ficar lá parado sem fazer nada?

10 segundos podem ser uma eternidade na aviação.

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2. Jamais, em hipótese nenhuma, beba a água dos banheiros:

“Nunca beba a água do banheiro – na verdade, lavar as mãos com ela já é bem ruim. Nós limpamos os tanques de água periodicamente, mas parasitas ficam tolerantes aos desinfetantes.”

Você bebe água do banheiro no Shopping Center? No cinema? Na sua casa? Então por que diabos faria isso em um avião?

Jamais beba água em uma aeronave que não tenha saído de uma garrafa. Nem sequer a toque. É que as portas para tirar a água potável do avião e os dejetos ficam muito perto uma da outra e frequentemente são manuseadas de uma vez, e pelo mesmo cara. Não é sempre, mas não dá pra ter certeza.

Esse é um dos mitos mais comuns relacionados a viagens de avião. Inclusive, essa história rola até entre os tripulantes. Eu aconselho a beber água de garrafa. Explico: Os tanques de água potável das aeronaves passam por processos de clorinização (clorination) e limpeza a intervalos regulares. Além disso, o sistema em si é provavelmente mais limpo que muitas caixas d’água por aí. No entanto, como não se pode garantir que as empresas que fornecem água para o avião mantêm um controle restrito de seu armazenamento, prefiro beber água mineral mesmo. Repito, isto não tem a ver com o avião, e sim com o veículo de transporte de água.

QTU e QTA

Dizer que a pessoa que faz o dreno dos dejetos (QTU) é a mesma que abastece a água potável do avião é de uma falta de conhecimento sem tamanho. A pessoa que faz o QTU possui EPI (Equipamento de Proteção Individual) diferenciado pois o trabalho é de risco. O EPI inclui máscara facial, luvas de braço inteiro, avental plástico e galocha, já que o indivíduo está exposto a contrair hepatite ou outras doenças infecciosas.

Já o indivíduo que abastece a água potável não utiliza EPI algum, pois está em contato com água pura, são funcionários diferentes. Os painéis de abastecimento não ficam tão perto assim: o 777 por exemplo abastece a água potável na parte fronteira da aeronave e os dejetos são recolhidos na parte traseira. Existe um painel de abastecimento de água potável alternativo também na parte traseira, mas fica do lado direito a muitos metros de distância do painel de dejetos. Mesmo nos aviões em que o painel fica próximo, ainda estão com uma distância bem segura.

Painel dianteiro - Água Potável
Painel dianteiro – Água Potável
Painel traseiro - Dejetos
Painel traseiro – Dejetos

A água de beber, usada pra fazer café e chá, não deveria ser consumida NUNCA. Os tanques que transportam essa água chegam a ter 60 anos e nunca são limpos – chegam a ter tanto musgo acumulado nas paredes que em alguns lugares o musgo tem alguns centímetros de espessura.”

Se prefiro beber água mineral a bordo, evito café – embora já o tenha tomado diversas vezes, tanto em solo quanto em viagens de avião, e jamais tive problemas de estômago por isso. Quanto ao tanque que transporta a água, não posso afirmar nada. No entanto, há regulamentações e suposta vigilância sanitária sobre eles, mas seguro morreu de velho. 60 anos o caminhão tanque? Que exagero…

3. O que os olhos veem…:

Dê uma olhada no estado externo da aeronave. Se a pintura estiver em mau estado, o avião está em mau estado. Skydrol, o fluido hidráulico da aeronave, dissolve qualquer coisa. Então se a pintura estiver corroída, é provavelmente porque rolou um vazamento de fluído, o que não é uma boa coisa a 35 mil pés de altura porque não dá pra parar e encher o tanque de novo.”

Besteira. Uma pintura bem conservada não significa absolutamente nada em aviação. Apenas que o operador gasta uma grana a mais com um processo de limpeza externa. No entanto, Skydrol danifica a pintura sim (inclusive, falei dele neste texto). Na verdade, o Skydrol remove a pintura, mas nem sempre é porque o avião está com vazamento. Vazamentos existem sim e são corrigidos (há limites inclusive para poder voar com vazamento por “x” horas aprovado pelo fabricante). Acontece que, mesmo depois que os vazamento foram corrigidos, o Skydrol já fez seu trabalho de descascar a tinta.

4. A verdadeira razão pela qual eles apagam as luzes:

“Quando um avião aterrissa à noite, as luzes são apagadas pra acostumar seus olhos à escuridão caso o avião precise ser evacuado em uma emergência. Com a visão habituada ao escuro, será mais fácil enxergar à noite.”

Olha, eu já falei sobre isso lá em um texto de 2012: Por que as luzes da cabine são apagadas na hora da decolagem?

5. A comida:

Meu pai trabalha pra uma grande companhia aérea. Ele me conta que:
– Os dois pilotos diferentes comem duas refeições completamente diferentes. É pra reduzir as chances de intoxicação alimentar.
– Roubar comida, mesmo se for algo que seria jogado fora, pode causar demissão instantânea. Você pode pedir pro seu supervisor, mas não pode simplesmente pegar a comida. Eles não querem a galera zuando tudo.

Sim, verdade sobre a alimentação dos pilotos. Pegar comida na galley obviamente é errado (mas já é uma tradição entre mecânicos). Entretanto, seria interessante a Galileu abordar é o processo envolvido no manuseio dos alimentos, do momento em que são pré-cozidos até chegar ao avião onde serão consumidos muitas horas depois durante as viagens de avião – isto sim, seria uma bela pauta.

6. Sobre a aterrissagem:

“Quando você experienciar uma aterrissagem pouco suave em mau tempo não é por falta de habilidade do piloto, mas é provavelmente de propósito. Se a pista de pouso estiver cheia de água, o avião precisar tocá-la com força para dispersar a camada de água e evitar aquaplanagem.”

Aquaplanagem pode ocorrer com ou sem “pancada” no pouso. Este tipo de pouso mais técnico (duro) é para garantir que os “ground spoilers” se levantarão “sem hesitar”, destruindo a sustentação o mais rápido possível e diminuindo a distância de pouso, muito importante em pista contaminada.

7. Tudo é muito sujo.

“Trabalhei pra Southwest como atendente de voo. Os cobertores e travesseiros? A gente só dobra de novo e coloca nos saquinhos entre os voos. Os únicos novos e lavados que eu já vi foram em voos que eram os primeiros do dia saindo de uma cidade com provisões. Além disso, as bandejas na frente de cada assento são super sujas. Eu já vi mais fraldas sujas nessas bandejas do que comida propriamente. E as bandejas nunca são desinfetadas ou limpas nem sequer uma vez.”

O que dizer disso? Eu nunca vi uma mãe trocando fralda em viagens de avião, apoiando o bebê na bandeja de comida, alguém já viu? Além do mais, em todos os “pernoites” é feito a limpeza de tudo, incluindo o carpete. Se assim não o fosse, já pensou o cheiro que teria dentro do avião?

8. A maioria dos voos também leva orgãos humanos.

“Na maior parte dos voos domésticos [nos EUA] há restos mortais ou orgãos. Eu trabalho como carregador de bagagem debaixo da asa do avião. Olhe pela janelinha por umas caixas longas que digam ‘Head’ de um dos lados…”

Acontece, sim de transportarem órgãos em viagens de avião. Inclusive, as companhias têm parceria com secretarias de saúde do Brasil inteiro. Entretanto, é mais um grande exagero falar que a maioria dos voos levam órgãos. Infelizmente, não temos tantos transplantes quanto deveríamos!

9. Aviões sem motor podem planar.

“Um piloto me contou que se os dois motores falharem, um avião pode planar por 6 milhas náutica pra cada 5 mil pés de altura. Ou seja, a 35 mil pés, um avião pode planar por cerca de 70 quilômetros sem energia. É por isso que a maioria dos acidentes acontecem na aterrissagem ou na decolagem.”

A parte do planeio está correta, graças a Deus o avião plana. Agora, a lógica do texto está confusa, pois veja: Se é por isso (o planeio) que os acidentes acontecem no pouso ou na decolagem, então se o avião não planar os acidentes ocorrerão em cruzeiro? [ironia off]

10. Em um dia quente, voar pode ser uma fria.

“Trabalhei como carregador de bagagem em Phoenix. Em dias muito quentes, tínhamos que tirar bagagem do compartimento porque os aviões tinham mais dificuldade de decolar no ar quente.”

Também falei sobre viagens de avião em dias quentes nesse texto: Como assim cancelaram o voo por causa do calor? Pode isso?

11. Até os fones de ouvido que vem embrulhadinhos não estão limpos.

“Eu costumava trabalhar pra um galpão que supria uma certa companhia aérea com alguns itens. Os fones de ouvido que dão pra vocês no embarque não são novos, apesar de estarem lacrados. Eles são tirados do avião, ‘limpos’ e então lacrados de novo.”

Imagine a situação do planeta se ao final de cada voo todos jogassem seus fones no lixo. E se eles são limpos antes de ir para o saquinho, por que o título diz que “não estão limpos”? Não entendi.

12. Do chão, dá pra saber se um avião está sequestrado.

“Se o avião estiver sendo sequestrado, quando o piloto aterrissar o avião ele deixará os flaps da asa levantados. Isso é o sinal para o aeroporto de que há algo esquisito no avião.”

Esta é a mais hilária. Tipo, se o avião após o pouso não for para o gate desembarcar seus passageiros normalmente não seria também um sinal de que há algo esquisito? Gente do céu, cadê o pensamento crítico?  Flaps levantados deve ser erro de tradução… 🙂

Tá faltando seriedade ou melhores fontes. Acho legal os tópicos e as perguntas em forums sobre qualquer assunto, inclusive viagens de avião, mas não se pode transformar isso de maneira nenhuma em pauta de revista.

A continuar assim viveremos num mundo em que não se saberá o que é verdade ou mentira.

Ou talvez já vivamos.

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